O leite é um alimento apreciado por muitos, mas sua curta vida útil frequentemente representa um desafio para os consumidores. Em um mundo onde a praticidade é essencial, a rotina agitada muitas vezes prioriza produtos que se adaptem a esse estilo de vida. No Brasil, temos duas opções predominantes de leite fluido: o leite pasteurizado e o leite UHT (Ultra High Temperature), com diferentes prazos de validade.

O leite pasteurizado, embora saboroso e fresco, tem uma vida útil de 3 a 8 dias. Por outro lado, o leite UHT pode ser armazenado à temperatura ambiente por até 6 meses. Como resultado, temos observado uma mudança no comportamento dos consumidores, com um aumento no consumo de leite UHT e uma queda no consumo de leite pasteurizado nos últimos anos (EMBRAPA, 2013).

Mas é possível resolver esse desafio para os consumidores? A resposta é sim. Com a introdução de tecnologias específicas na indústria de laticínios, pode-se oferecer uma solução que combina a qualidade do leite pasteurizado com uma vida útil estendida.

O segredo para prolongar a vida útil do leite pasteurizado está na gestão das bactérias deterioradoras e das enzimas que elas produzem. As enzimas termorresistentes, como proteases e lipases, produzidas por microrganismos psicotróficos, são as responsáveis por problemas como a gelificação e o sabor amargo.

No Brasil, a alta incidência de mastite em animais e as condições inadequadas de armazenamento do leite cru agravam ainda mais o problema, contribuindo para o desenvolvimento de microrganismos indesejáveis no leite. Entre esses microrganismos, destacam-se as bactérias Gram-negativas, como o Pseudomonas, e o gênero Bacillus, conhecido por ser resistente aos tratamentos térmicos aplicados ao leite.

A utilização de membranas na indústria láctea emergiu como uma solução viável. O processo de microfiltração (MF) envolve a passagem do leite por uma membrana porosa com poros de 0,1 a 10 µm. Isso permite a separação de proteínas, a eliminação de microrganismos patogênicos, esporos, células somáticas e até mesmo gordura residual (GRANT et al., 2005; TOMASULA et al., 2011). Estudos mostram que a MF pode reduzir significativamente a contagem de microrganismos totais.

O resultado dessa tecnologia é impressionante. O leite pasteurizado microfiltrado pode ter uma vida útil estendida, superando 15 dias, dependendo das condições de qualidade. No Brasil, algumas marcas já oferecem validades de até 21 dias para o leite pasteurizado tipo A.

Essa inovação tecnológica representa não apenas um avanço na produção de leite, mas também uma oportunidade para atender às demandas dos consumidores por produtos frescos e com prazos de validade mais longos. O progresso na Europa e em outros países demonstra a necessidade de investimentos e melhorias em toda a cadeia de produção, desde a indústria até os produtores, a fim de atingir padrões de qualidade semelhantes aos de outras nações.

A indústria de laticínios no Brasil está pronta para abraçar essa revolução tecnológica, oferecendo aos consumidores a combinação perfeita de qualidade e vida útil estendida no leite pasteurizado.